No último domingo elegemos pelo voto direto, aquele que será o governante máximo da nação. Este governante, de acordo com a democracia representativa, é quem tem a função de expressar e dar voz à sociedade que o elegeu. Assim, ele sintetiza e condensa tudo que somos ou pensamos ser, nossas formas de agir, pensar e sentir, como indivíduos ou como sociedade. No limite, deve soar como um de nós!
Somos racistas, como podemos verificar no Atlas da Violência 2017. A população negra corresponde à maioria dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios. No mesmo sentido, as pessoas negras são a maioria no sistema carcerário do país. Somos misóginos e a prova disso é que foi preciso criar leis de proteção específica às mulheres; a exemplo da Lei Maria da Penha, de 2006, que criminalizou a violência doméstica e a Lei 13.104/2015, que mostrou ser necessário tratar o feminicídio crime hediondo. Somos também homofóbicos, como mostram os dados do Grupo Gay da Bahia. Um ou uma LGBTs é morto ou morta a cada 19 horas no Brasil. É uma chacina diária pela peculiar condição de sua sexualidade não convencional.
Nosso trânsito é a expressão do quanto somos violentos, corruptos e agimos de forma persistente e contumaz ao arrepio da lei. Somos o quinto país em mortes no trânsito no mundo. Só no último ano foi perto de 50 mil mortes, 130 vidas por dia, equivale à queda de um Boeing por dia. Segundo a PRF as principais causas das mortes no último ano são falta de atenção, velocidade incompatível, ingestão de álcool, desobediência à sinalização, ultrapassagens indevidas. Ou seja, não respeitamos a nós nem aos outros, não damos valor nem à própria vida!
Portanto, de fato elegemos um sujeito e um projeto de país que é nosso próprio reflexo como sociedade. Nas palavras do historiador David Duke, ligado à organização supremacista estadunidense Ku Klux Klan, o nosso futuro chefe da nação soa como um deles, estadunidenses; mas isso porque ele não conhece a nossa sociedade brasileira; se conhecesse, então saberia que suas palavras também fazem muito sentido por aqui, pois ele soa, muito mais, como um de nós!